2/20/2018

A NOITE DE JORGE TUFIC



O poeta Jorge Tufic (foto: proparnaiba.com)




A morte na semana passada do poeta Jorge Tufic (1930-2018) me colhe de surpresa, mas não sem dizer algo sobre ele e sua obra.

Poeta isolado no interior da Amazônia, destinado ao ostracismo pela distância dos grandes centros (São Paulo e Rio), mesmo assim conseguiu se projetar na literatura brasileira, embora seja mais conhecido por poetas e ficcionistas.

Na juventude, em Manaus, Tufic foi um dos fundadores em 1953 do "Clube da Madrugada", que reunia jovens escritores que estavam se iniciando na literatura e que mais tarde se projetaram regional e nacionalmente.

Outro dia, um de seus componentes, o contista Adrino Aragão, me lembrou de um de melhores trabalhos de Jorge Tufic: "Que será de ti, Amazônia?", constante de seu livro "Quando as noites voavam". Belo título, bons poemas, tema atualíssimo.

Por isso, vou me concentrar nesse poema. Não poderei transcrevê-lo dada a sua extensão, mas pinçarei alguns fragmentos. O título funciona como refrão a abrir todas as estrofes.

[...]
Que será de ti, Amazônia,
enquanto o envolvimento de teu solo,
à cata de minérios
envenenar os seus rios
e as toras de madeira submersas
desabarem sobre ti
numa queda insalubre e frenética
de chuvas ácidas?

[...]
enquanto o desmatamento e as queimadas
transferem para os teus ares o sezão
dos pântanos
e a temperatura dos internos?

[...]
última página do Gênesis,
quando os seres que fazem a tua escrita
enigmática
mergulhar na usura
que te rebaixa
aos olhos do mundo?

Assim, Tufic vai desfiando poeticamente todas as mazelas que afligiam (e agora ainda mais) sua terra, para terminar apocalipticamente:

"Os nichos sagrados estão em chamas.
Teu coração também se revolta
e sangra, Amazônia.
Fetos de carbono
imitam pajés enforcados
nas enviras do luar."

(20-02-2018)

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