4/28/2015

PERFIL DOS "VERDES" - Cataguases 1927 - (5) Francisco Inácio Peixoto


FRANCISCO INÁCIO PEIXOTO - Francisco Inácio nasceu em Cataguases em 1909. De grande importância desde o início do movimento Verde, mas sua figura se agigantou com o passar dos anos, pois fixou residência em Cataguases, onde fundou o Colégio de Cataguases (hoje, Colégio Manuel Inácio), exerceu influência cultural sobre a cidade embora tenha deixado obra pouco extensa. Morreu em Cataguases em 1986.
Obras: Meia Pataca (1928, poemas, com Guilhermino César), Dona Flor (1940, contos), Passaporte proibido (1960, livro de viagem), A janela (1967, contos), Chamada geral (1982, contos). Pode ser considerado a figura central na arte cataguasense desde a década de 1920 até a de 1980.



PEDREIRA

Dependurados no espaço
eles ficam ali o dia inteiro
arrancando faíscas
furando buracos na pedreira enorme
que reflete como um espelho
as suas sombas primitivas.

À tarde ouve-se um estrondo
e o eco repete a gargalhada das pedras
que vieram rolando da montanha.

Os homens de pele tostada
descem então dos seus esconderijos
e caminham pra suas casas
vagarosamente
decepcionados
segurando com as mãos cheias de calos
as ferramentas com que procuram
há uma porção de anos
o segredo que lhes dê uma nova revelação de vida.

(in Rev.Verde nº 4, dez./1927)


MEIA PATACA

De primeiro o lugar se chamava
Arraial do Meia-Pataca
Por causa de terem achado

Num corguinho que por aqui passava
Meia-pataca de ouro.

Também nunca que acharam mais nada...

Imagino Cataguases
O que seria de você hoje
Se em vez só de meia-pataca
Tivesse mais ouro naquele corguinho...


Reproduzimos alguns fragmentos do livro “Passaporte proibido”, anotações da viagem que fez com a mulher Amelinha à Rússia e à Tchecoslováquia em 1955:

"No Hotel Alcron, a tarde é triste. No grande salão sombrio, há mulheres suspeitas e, positivamente, conspiradores internacionais que aumentam nossa emoção." (p.10)

"(...)desfraldando bandeiras e flâmulas. Numa delas, em muitas delas, em letras vermelhas, a palavra nunca esquecida: "Mir" . Paz, na tarde de sol esplêndido. E as palavras vibram como um ruflar de asas." (p. 6)

"Dos sorrisos, entretanto, optamos por aquele que umedece negros olhos caucasianos." (p. 76)

"Mais safras houvera, mais prováramos, pois a adega é fria; a hospitalidade, antiga; as obras, demoradas e o vinho, um veludo." (p. 158)




CANÇÃOZINHA PARA GALA EDELMAN

Gala dança
dança e sorri
na noite branca
de Leningrado.

Que fazes, Gala,
de teu corpo infante
na noite branca
de Leningrado?

Tu o atiras
pela rosa-dos-ventos;
um pouco ao norte
(Norte, Estrela!)
um pouco ao sul.
O resto roubo-os,
que pertencem a mim.
(Tão pura és, tão linda, tão clara
que não distribuis desejos
mas esperanças).
Fico com as mãos
que estas, sim,
espalham messes.

Fico com os olhos
que tingem de azul
(de branco, de branco!)
tudo o que é áspero.

Fico com a graça
de Gala em flor
a quem elejo
do norte, pomba
Estrela da Paz.

(poema em homenagem a uma bailarina que Francisco viu dançar em Leningrado quando de sua viagem à Rússia em 1955).


poema visual de Aquiles Branco em homenagem a Francisco Inácio e à bailarina Gala Edelman que o inspirou em Leningrado.


(Charge criada pelo artista Dounê Spinola)



(Charge do artista Di Carrara)


Com Dona Amelinha, sua esposa, em flagrante em Moscou, quando de sua viagem à Rússia.


Com Márcia Carrano, em sua residência, na festa dos seus 70 anos.


Em sua residência, por ocasião do seu "setentenário".


Com o grupo "Totem" + Francisco Cabral + o cineasta Paulo A.Gomes, na confraternização dos seus 70 anos, em sua residência.


Capa do 1º livro "solo".


Com a mulher Amelinha e os filhos, em sua residência.


Em flagrante captado pelo fotógrafo Jorge Napoleão.


(fotos do meu Arquivo e do álbum da família).




4/27/2015

PEQUENO PERFIL DOS "VERDES" - Cataguases 1927 - 4 Fonte-Boa



FONTE-BOA - Christóphoro Fonte-Boa nasceu em São Gotardo (MG), em 1906. Com os colegas da mesma idade, participou das sessões do Grêmio Literário Machado de Assis, como orador. Em 1927 participou da equipe da revista Verde. Advogado e jornalista, trabalhou como redator do Diário de Minas, de Belo Horizonte, e, em Juiz de Fora, do Diário Mercantil. Também colaborou na revista literária Leite Criôlo. Morreu em Juiz de Fora, em 1993. Obra: Eu, tu e a quarta dimensão.


O ÚLTIMO DOS VERDES

Joaquim Branco

Já tinha desistido de conseguir maiores informações sobre o escritor Christóphoro Fonte Boa, um dos participantes do movimento Verde em Cataguases. Foram anos de procura em jornais, universidades, bibliotecas, até no Arquivo Mineiro fui buscar fontes. Ninguém sabia do nosso poeta.
E eis que agora obtive uma pista por meio do amigo e professor de Geografia Marcos Mergarejo Netto, com quem falei de minhas preocupações acerca daquele que era o mais ‘misterioso’ dos membros da revista Verde. Marcos conseguiu o número de telefone de um sobrinho de Fonte Boa, o advogado Válter Bueno Fonte Boa, residente em São Gotardo. Através do Válter cheguei a dona Veralice Fernandes Fonte Boa, uma sobrinha com quem Christóphoro conviveu em Juiz de Fora antes de morrer em 1993. Em breve, pretendo ir a Juiz de Fora para uma entrevista com dona Veralice.
Por enquanto, revelo os dados que consegui com a prestimosa colaboração do dr. Válter e de dona Veralice.
Christóphoro Fonte Boa nasceu em São Gotardo (MG) a 29 de agosto de 1906, filho de Sebastião Lopes Fonte Boa e Firmina Alves da Silva.
Fez os primeiros estudos em São Gotardo e parte do curso ginasial em Ouro Preto, concluído no Ginásio de Cataguases. Trabalhou em ambos como inspetor de alunos.
Em 1927 participou do Movimento Verde.
Em 1932, concluiu o curso de Direito na UFMG, em Belo Horizonte, e exerceu o jornalismo no Diário de Minas.
Pertencia à Academia de Letras de Juiz de Fora e escrevia no Diário Mercantil, quando passou a residir em Juiz de Fora. Morreu em Juiz de Fora em 1993.
Deixou o livro Eu, tu e a quarta dimensão, edição particular e fora de comércio.
Com o título sugestivo de “O sol na prosa”, transcrevo um poema de Fonte Boa que vale pelas imagens de um cotidiano brincalhão retratando a capital mineira:

O SOL NA PROSA

Em Belo Horizonte em junho
o sol pela manhã não
é pau não.
(Se fosse em Ouro Preto as
lagartixas se espichavam
pra fora dos buracos
nas pedras centenárias)
Ao meio-dia não é de
todo católico debaixo
do braço dos transeuntes.
Mas às quinze é banzão.
nas sombras compridas
das árvores redondas.
Por que então aquele
homem varapau de
guarda-sol ou chuva
na paisagem mineira?

Fontes: revista Cidade das Letras, da Academia de JF, de 31.05.1945, p. 39; Poesia em Juiz de Fora (coletânea) - Projeto Documento - Pesquisa: Dormevilly Nóbrega – FUNALFA - 1981.


O POETA
Fonte-Boa

Trago nos olhos o peso de noites inteiras mal dormidas.
No coração esta ânsia de horizontes irrevelados.
Acima da minha cabeça estende-se o abismo
que nasceu dentro de mim
quando aprendi a sofrer a angústia da profundidade.
Penetrei o limiar azul dessa paragem,
embriaguei-me da sua mansuetude.
Vi a eclosão do amor em círculos concêntricos
afirmando a realidade essencial.
Vi auroras boreais, poentes luminosos,
arco-íris de polo a polo.
Eu ia levado pela tua mão.

TU E VOCÊ
Christóphoro Fonte Boa

(para sua Olguita)
Estou aqui pensando,
Pensando em te escrever,
Porém não sei "o que".
Uma coisa boa
Escrita assim à toa
Mas só para você.
Uma carta em verso?
Dirá logo você:
"Nem devo ler..."
Falta-me o estilo terso,
Mas a rima é você.
Como disse o poeta Paulo Geraldy:
"O tu e o você
São palavras iguais
No estilo familiar..."
Assim é mais gostoso,
Muito mais,
Escrever para você.


O poeta Christophoro Fonte-Boa recém-formado em Direito.


O poeta, a esposa Olguita e a irmã Arlete, no Rio de Janeiro, em 28-10-1975.


Fonte-Boa, a esposa e um amigo.


Olguita quando solteira.


Casa onde morou o casal em São Gotardo MG.

(dados e fotos fornecidos por familiares de Fonte-Boa e hoje pertencentes ao meu arquivo literário).




4/26/2015

PEQUENO PERFIL DOS "VERDES" - Cataguases 1927 - 3 Enrique de Resende



ENRIQUE DE RESENDE - Henrique Vieira de Rezende nasceu em Cataguases em 13-08-1899, na família dos fundadores do município. No tempo em que construía a estrada de rodagem Cataguases-Leopoldina, como engenheiro, fez parte do grupo Verde de literatura. Escreveu variada obra (poemas, críticas, memórias). Casado com Judith Resende com quem teve 4 filhos: João Afonso (falecido), Teresa, Henrique Oswaldo (Vadinho, também falecido) e Maria Lúcia.
Morreu no Rio em 1973.
Obras:
Pequena história sentimental de Cataguases, Obras completas, Estórias e memórias, Derradeira colheita
e outras.






O escritor Enrique de Resende (quando participava do Movimento Verde mudou a grafia do seu nome).






O CANTO DA TERRA VERDE

Enrique de Resende

Leva de negros.

Fuzila o sol tinindo nas cacundas nuas.

No ar o lampejo metálico das enxadas e das picaretas.

(a quando e quando
estrala a dinamite, estrondando e rebom-
bando no seio bruto
da pedreira bruta.)

E as estradas de rodagem, a custo, lentamente,
se entrelaçam,
como um cordame de veias,
no corpo adusto
da terra inóspita.




A esposa Judith.


Família de Enrique de Resende.


Antiga Fazenda do Rochedo, onde morava o clã dos Rezende.


Jardins da Fazenda do Rochedo.


Enrique, a esposa e netos.


Judith e Enrique.


Caricatura do poeta-engenheiro.


No Rio de Janeiro, numa clássica reunião de intelectuais - o Sabadoyle - onde se reuniam escritores na casa de Plínio Doyle.


Na posse como acadêmico na AML - Academia Mineira de Letras, em Belo Horizonte.


Fachada da Fazenda do Rochedo.


Capa de seu livro de estreia: Turris Eburnea.


Passeando em BH com um amigo.


Enrique foi o engenheiro responsável pela construção da 1ª estrada Cataguases-Leopoldina pelos idos de 1927, quando participou também do Movimento Verde. Esta foto é histórica. Mostra a passagem do 1º carro pela Ponte do Sabiá, talvez dirigido pelo poeta. (cedida pela filha de Enrique - Maria Lúcia.


Reunião comemorativa de família.


Jantar em família.


Família reunida.


Charge do pintor Di Carrara.


Capa do 1º livro de Enrique em conjunto com Rosário Fusco e Ascânio Lopes.

(fotos do Arquivo Joaquim Branco e algumas cedidas por Maria Lúcia Rezende e José Rezende Reis, aos quais agradeço a colaboração).

4/25/2015

PEQUENO PERFIL DOS "VERDES" - Cataguases MG 1927 -- 2 Camilo Soares





CAMILO SOARES - Camilo Soares de Figueiredo Junior nasceu em 1909, em Eugenópolis (MG). Por volta de 1926, já estava em Cataguases, estudando no Ginásio Municipal. Em vida, só publicou um livro: O soldado Nicolau; contudo, deixou obras inéditas: Rio Tonto (contos); Ermida (romance); As viagens, Diorama para Bueri, Teoremas para Edmor (poesia). Residiu em vários lugares, inclusive em Muriaé, com a família. Participante do Movimento Verde principalmente como poeta inovador. Casou-se com Maria Melânia Amaral. O casal teve uma filha: Lúcia Soares de Figueiredo Chaves. Tem uma neta também morando em Muriaé - Lúcia Helena.
Morreu em São Paulo em 1982.


(caricatura do pintor Di Carrara)



NOTURNO
Camilo Soares

Eu passo pela vida
assim
como um trem noturno
nos subúrbios pobres...
soturnamente...
vertiginosamente...
na ânsia louca de chegar...
misteriosamente...
no mistério de destinos ignotos...
Os passageiros
são de todas as classes...
o maquinista é o velho Cérebro,
com um ordenado mesquinho...
Pobre Cérebro!
...os maquinistas
são tão dados ao vicio da embriaguez...





Camilo, com a irmã d. Amélia e a neta Lúcia Helena.















RUA
Camilo Soares

Terça-feira
de confete.
Na esquina
um moleque assobia a Gigolette.
Pela rua
deserta,
de luz incerta
passa um automóvel.

O vento
– telegrama do infinito
anuncia que a chuva
rompe no céu muralhas de granito.
Cismo
encostado na minha tristeza...
(... esta rua silenciosa
é a minha rua,
a rua da minha vida,
triste rua sem beleza...)




Com os 3 netos: Paulo, Ana Amélia e Lúcia Helena.


O jovem Camilo.


Com a irmã Amélia Soares de Figueiredo.


Na formatura em Direito.




Na juventude.


Numa hora de lazer.


Com um amigo.


Numa pose com 2 amigos.


No quintal da casa da filha com o cão Veludo de Lúcia Helena. Estava de férias em Muriaé. Trabalhava em S.Paulo como inspetor do Instituto Mackenzie.


Matéria feita com a colaboração da neta de Camilo Soares - Lúcia Helena Chaves a quem agradeço a gentileza.